9.25.2013

E o Despertar Ficou Mais Doce...


Casada? – Aguardava minha confirmação para instruir o loro a seguir adiante com sua ocupação.

Não, sorri, concordando em silêncio com seu palpite… apenas mãe. E dei um xamego na Petite, adormecida em meus braços, enquanto observava o pássaro finalizar seu ritual no desgastado realejo.

Mãe solteira.

Expressão cunhada nos idos e vindos da sociedade e dotada de grande bagagem cultural. Coitada… E o pai? Fez o filho, agora cria! Deve ser vagabunda… Daqui a pouco arruma outro filho! Por que não usou camisinha? Se fosse minha filha…  e assim aprendemos a ignorar olhares complacentes e nos esquivar de perguntas curiosas.

A mãe solteira não tem o privilégio de respirar por 10 minutos enquanto o parceiro banha o pequenino. Não conta com um par extra de braços para carregar o bebê recém chegado que quer carinho e aconchego nas longas horas da madrugada. Não recebe um abraço apertado e uma palavra de conforto ao se deitar após uma exaustiva jornada. A mãe solteira aprende logo que o tempo tem um valor incalculável.

E desenvolve a incrível técnica de fazer comida enquanto lava roupa, conversa com a mãe pelo telefone e passa um pano no chão. E a mãe destra, aprende a escovar os dentes, abrir a porta, carregar a sacola e trocar de roupa com a mão esquerda. E em 40 segundos guarda as roupinhas enquanto come um sanduíche, troca a fralda e lava o bumbum mais fofo do mundo. E sorri com carinho ao imaginar esta cena. E se desliga do mundo ao ver um sorriso banguela. E esquece de tudo enquanto estiver ao lado de sua cria.

A mãe solteira não grita, não xinga, não fala palavrão, não bate boca. A mãe solteira não atura a enxurrada de conhecimento oriundo da tão informada sogra. E não reclama que a fralda está torta, que o macaquinho não combina com a meia, que entrou água no nariz do bebê, que tem muita pomada, que a boca está suja, que a roupa continua no chão… A rotina é mais simples.

E a culpa é menor. Não se culpa. Agradece. Aproveita. E corre do trabalho para passar no berçário antes de escurecer. Porque se ela não for, ninguém vai buscar seu pequenino. E se chover e ela ficar presa no trânsito, o coração fica apertadinho apertadinho. Pois é, a maioria delas, trabalha. E em 60 minutos vai à manicure, à depilação, ao correio, à papelaria e come um lanche natural que vale como almoço.  E sonha com o dia em que volta a frequentar a academia.

Para cuidar de alguém, é preciso estar bem. Para doar amor, o tal incondicional, é preciso se amar. A mãe solteira tem cuidado redobrado consigo própria. E ela se arruma, se enfeita, põe fita e laço de cetim. E desfila orgulhosa com seu bebê.  E caminha sozinha. As amigas casadas se afastam. As solteiras, tem outros planos. O relacionamento com o pai dos filhos é delicado… O rótulo de mãe solteira estampado nos braços gera desconfiança, insegurança e, pasmem, até ciúmes.

Porque a mãe solteira é, além de tudo, solteira. E pode desfrutar de todos os benefícios que essa condição lhe impõe. A mãe solteira sai, ri, dança, bebe, namora e quando der vontade pega as crianças e vai viajar para um cantinho gostoso. Assim, sem dar satisfação a ninguém.

Mas a mãe solteira também chora. E sofre por estar sozinha. E se tortura ao ver nas redes sociais a foto do “pai” posando de gatinho ao lado de outra escolhida com o filho no colo nas tardes de domingo. E chora ao se imaginar mera coadjuvante no mundo encantado de seus sonhos. É aí que precisa de ajuda, de um empurrãozinho para cima, de um abraço apertado, de um ombro amigo.  Nem que seja apenas para lembrá-la que todo dia ela tem a oportunidade de acordar ao lado desse serzinho que a ama e pode receber o sorriso mais sincero que existe. E não há maneira mais gostosa de despertar.

O ex não assumiu, produção independente, separação durante a gravidez, divórcio depois que o bebê nasceu, inseminação artificial, golpe da barriga... Os motivos são vários, a realidade é a mesma: maternidade solo! Se você tem 1, 2, 3 ou + pimpolhos sob seu teto, junte-se a nós para: trocar experiências, dar dicas, enviar conselhos, compartilhar tristezas, multiplicar alegrias, pedir ajuda e receber carinho! “Single moms” no Facebook, porque em inglês, soa mais leve.