4.21.2019

All of a sudden, someone changes everything.
The way I feel.
The way waking up is like.
The way going to sleep feels like.
And he changes my plans.
Makes me want to never be apart.
To tell him everything
To share feelings and dreams.
To let go of my own wishes
And consolidate plans
And in the blink of an eye he is gone.
No explanations.
No fights. No arguments.
And my trust in the human being..
Holds strong.
No matter how many tears roll down my eyes.

2.26.2018

O HOMEM, SEUS SÍMBOLOS, SEUS RITOS, SUA VIDA OU

Apenas uma inquietação num momento de passagem (por Luiz Moura, meu tio em 18/01/2014)

Quem se lembrará de nós alguns anos após nossa morte?
Quando morremos de velhice, talvez os filhos, algum neto ou irmão e
primos mais novos...
Mas e se não tivermos tido filhos?
Talvez o nível de possessão possa mensurar isto,
alguém dirá morreu aquele que era dono daquela casa grande verde,
na rua de c...ima. ou morreu o seu Zé do Chevette, ou mesmo o Abílio
da charrete puxada pela égua malhada.
Quem sabe o falecido seja lembrado por alguma profissão específica,( vale mais para cidades pequenas),:
morreu o Zé do açougue, ou o Abílio queijeiro ou o mecânico da rua de baixo.
E na cidade grande, cujas pequenas possessões são irrelevantes, e as profissões também?
Muitos serão enterrados como indigentes caso ningéum lhes venha reclamar o corpo.
Pausa para reflexão
Vamos deixar de lado as especulações e entrar na vida real:
Ele não tinha grandes posses, nem grandes dívidas, teve alguma habilidade no passado, foi ponta direita do Penapolense, quando o time era da segunda divisão, lembrando que na época, final da década de quarente e década de cinquenta, a atual primeira divisão era chamada de divisão especial. Depois tentou ser cantor, arriscando a sorte em programas de auditóri, no rádio, que era a grande coqueluche do momento,
mas acabou exercendo a profissão de alfaiate , tendo costurado para alguns cantores que pelo menos na fama foram mais longe que ele, como Antônio Marcos, Francisco Petrônio e alguns outros nomes que apareceram no novo veículo da mídia a TV, como
Gugu Liberato e Delfim Neto, mas a sua maior glória mesmo foi ter confeccionado a Roupa da Comissão de Frente da Escola de Samba Nenê da Vila Matilde no carnaval de 1974.
Teve seus filhos e criou com amor, eu e meus irmãos que o hoje o deixamos para ser cremado ( foi opção sua) na Vila Alpina embalado por canções de Miltom Nascimento, a quem muito admirava e pelo hino do São Paulo, de quem foi fiel torcedor,
um grande abraço a meu pai Sr Luiz de Moura fico grato que tenha existido,
Saravá ou Amem ou simples ate mais, meu querido.
Ver mais

7.20.2016

Piracanga: Detox da Alma



"...and what made you want to spent 10 days in Piracanga?"


Piracanga
O silêncio. O vazio. A tranquilidade.


Ao fechar os olhos, ainda sinto o vento entrar pela janela do táxi e vejo o mar de luzes pontilhando as ruas e avenidas que vão do Aeroporto de Congonhas ao Hospital Sabará. Minha filha estava com 2 anos. Deitada em uma maca no pronto socorro, incomodada com o acesso pendurado em sua pequenina veia, alimentada por soro e ainda mais branquinha que de costume.


"Você se comunica diretamente com Deus, mas deixa o racional controlar sua intuição." Uma tosse suave chamou minha atenção enquanto me despedia na tarde de domingo. Deve ser uma virose leve.


Antes mesmo de eu fazer o check-in antecipado na 4a, Gabizinha já tinha sido admitida no Pronto Socorro.


E ficamos lá. Dormimos lá. Brincamos com o cachorro que ia visitar os pacientes. Fizemos uma máscara com a senhora que era voluntária às 5as. Dançamos ao som do violão de uma animada dupla. E avisei no trabalho que precisava de uns dias de licença até sair do hospital.  E repensei minhas decisões. E no meu aniversário, ganhamos nossa alta.


Foi aí que decidi ir para Piracanga. Tirar um sabático. Viajar. Mudar de emprego. Fazer o que eu amo, com quem eu amo, pelo tempo que eu quiser. E fui pesquisar as opções...


Sincronicidade.


E eis que entre páginas de turismo e entrevistas de emprego, em 3 semanas recebi uma proposta do Indeed, portal de busca de empregos que estava abrindo um escritório no Brasil. Start up. Área de talentos. Empresa que valoriza seus funcionários. Missão com impacto na sociedade. Era tanta felicidade que não cabia no peito. E no dia seguinte, 26 de fevereiro, enviei meu "sim" ao novo emprego e me contive para dar a notícia ao meu Gerente apenas na 2a feira.


E a vida às vezes caminha com passos tortuosos.


Na mesma 2a feira, recebi um telefonema do LinkedIn sobre uma nova vaga no Brasil. Desenhada para mim. Mas não, obrigada, assinei uma proposta na 6a. E desta vez os sinais divinos falaram alto e uma amiga comentou... "Ah, aplica, aqui na empresa uma moça saiu logo depois que entrou porque encontrou outra vaga..." E liguei de volta.


Comecei no Indeed no dia 28 de março no treinamento de novos funcionários em Stamford, Connecticut. E foram 4 semanas, sendo 2 em Dublin, Irlanda, de novos amigos, descobertas, aprendizado, conhecimento, passeios. E de repente tudo o que eu sabia sobre o que era o relacionamento entre empresa e funcionário se transforma. E mudam as expectativas. E se altera o conceito de tempo e trabalho.


E em 3 semanas após retonar a SP, recebi a proposta do LinkedIn. Ah, confesso que por alguns minutos eu queria não ter sido aprovada para não ter que escolher. Mas a vida deixou esta decisão para mim. E foi difícil. Dificil abrir mão da ética, do comprometimento, de quebrar minha palavra. Dificil desapontar pessoas que tinham depositado tanta confiança em mim. Dificil me despedir sem nem mesmo ter tido o tempo de conhecer. Dificil deixar o certo e agradável pelo incerto. Dificil contar a notícia para minha nova Gerente, que eu já tinha aprendido a admirar e respeitar.


Saí do Indeed na 2a em que dei a notícia. E tinha 3 semanas até a nova data de início.


Fui aí que decidi tirar férias em Piracanga.

5.07.2015

.Desmame.

A cada 15m. De hora em hora. A cada 2 horas. 3 vezes ao dia. Com 12h de intervalo. Dia sim, dia não. 1x por semana.

A doce melodia do despertador há 2 anos, 2 meses e 13 dias vinha acompanhada de glóbulos, colheres, copinhos, bolsa de àgua quente, gotinhas, gelo.

E eis que a pequenina que acordava entre 3 e 342 vezes por noite resolve dormir. Até às 8:15. Da manhã seguinte. De uma manhã em que eu tinha médico às 8:00.

Belladona, Infludoron, Arnica, Novalgina, Thuya, Amoxicilina, Hyxizine, Protopic, Cefalexina. Nada. Estranho. Estranho voltar a dormir tantas horas seguidas.

Aos 22 anos morei em Málaga por 3 meses. Esconder o despertador era um ritual noturno para garantir a pontualidade no Ayuntamiento de Torremolinos.

Os ciclos se repetem.



9.25.2013

E o Despertar Ficou Mais Doce...


Casada? – Aguardava minha confirmação para instruir o loro a seguir adiante com sua ocupação.

Não, sorri, concordando em silêncio com seu palpite… apenas mãe. E dei um xamego na Petite, adormecida em meus braços, enquanto observava o pássaro finalizar seu ritual no desgastado realejo.

Mãe solteira.

Expressão cunhada nos idos e vindos da sociedade e dotada de grande bagagem cultural. Coitada… E o pai? Fez o filho, agora cria! Deve ser vagabunda… Daqui a pouco arruma outro filho! Por que não usou camisinha? Se fosse minha filha…  e assim aprendemos a ignorar olhares complacentes e nos esquivar de perguntas curiosas.

A mãe solteira não tem o privilégio de respirar por 10 minutos enquanto o parceiro banha o pequenino. Não conta com um par extra de braços para carregar o bebê recém chegado que quer carinho e aconchego nas longas horas da madrugada. Não recebe um abraço apertado e uma palavra de conforto ao se deitar após uma exaustiva jornada. A mãe solteira aprende logo que o tempo tem um valor incalculável.

E desenvolve a incrível técnica de fazer comida enquanto lava roupa, conversa com a mãe pelo telefone e passa um pano no chão. E a mãe destra, aprende a escovar os dentes, abrir a porta, carregar a sacola e trocar de roupa com a mão esquerda. E em 40 segundos guarda as roupinhas enquanto come um sanduíche, troca a fralda e lava o bumbum mais fofo do mundo. E sorri com carinho ao imaginar esta cena. E se desliga do mundo ao ver um sorriso banguela. E esquece de tudo enquanto estiver ao lado de sua cria.

A mãe solteira não grita, não xinga, não fala palavrão, não bate boca. A mãe solteira não atura a enxurrada de conhecimento oriundo da tão informada sogra. E não reclama que a fralda está torta, que o macaquinho não combina com a meia, que entrou água no nariz do bebê, que tem muita pomada, que a boca está suja, que a roupa continua no chão… A rotina é mais simples.

E a culpa é menor. Não se culpa. Agradece. Aproveita. E corre do trabalho para passar no berçário antes de escurecer. Porque se ela não for, ninguém vai buscar seu pequenino. E se chover e ela ficar presa no trânsito, o coração fica apertadinho apertadinho. Pois é, a maioria delas, trabalha. E em 60 minutos vai à manicure, à depilação, ao correio, à papelaria e come um lanche natural que vale como almoço.  E sonha com o dia em que volta a frequentar a academia.

Para cuidar de alguém, é preciso estar bem. Para doar amor, o tal incondicional, é preciso se amar. A mãe solteira tem cuidado redobrado consigo própria. E ela se arruma, se enfeita, põe fita e laço de cetim. E desfila orgulhosa com seu bebê.  E caminha sozinha. As amigas casadas se afastam. As solteiras, tem outros planos. O relacionamento com o pai dos filhos é delicado… O rótulo de mãe solteira estampado nos braços gera desconfiança, insegurança e, pasmem, até ciúmes.

Porque a mãe solteira é, além de tudo, solteira. E pode desfrutar de todos os benefícios que essa condição lhe impõe. A mãe solteira sai, ri, dança, bebe, namora e quando der vontade pega as crianças e vai viajar para um cantinho gostoso. Assim, sem dar satisfação a ninguém.

Mas a mãe solteira também chora. E sofre por estar sozinha. E se tortura ao ver nas redes sociais a foto do “pai” posando de gatinho ao lado de outra escolhida com o filho no colo nas tardes de domingo. E chora ao se imaginar mera coadjuvante no mundo encantado de seus sonhos. É aí que precisa de ajuda, de um empurrãozinho para cima, de um abraço apertado, de um ombro amigo.  Nem que seja apenas para lembrá-la que todo dia ela tem a oportunidade de acordar ao lado desse serzinho que a ama e pode receber o sorriso mais sincero que existe. E não há maneira mais gostosa de despertar.

O ex não assumiu, produção independente, separação durante a gravidez, divórcio depois que o bebê nasceu, inseminação artificial, golpe da barriga... Os motivos são vários, a realidade é a mesma: maternidade solo! Se você tem 1, 2, 3 ou + pimpolhos sob seu teto, junte-se a nós para: trocar experiências, dar dicas, enviar conselhos, compartilhar tristezas, multiplicar alegrias, pedir ajuda e receber carinho! “Single moms” no Facebook, porque em inglês, soa mais leve.

8.29.2013

4 Horas Sem Mamar

E a minha pequenina cresceu. Hoje completa uma semana de adaptação no berçário... E eu fiz uma aula de dança. E o celular não tocou. Tomei banho. Fui ao médico. E apesar de estar a 6 quarteirões de distância, pulei no primeiro táxi quando me ligaram da escolinha "vem amamentar". E fui.

E a minha pequenina me recebeu com seu típico suspiro de alegria. Encheu a barriguinha, brincamos, demos risada, trocamos olhares e sorrisos... e em 15 minutos ela se foi... e com um pouco de inveja da berçarista que a tinha nos braços, parti. E tinha mais uma hora totalmente minha antes de buscá-la.

Em uma semana a vida volta ao seu eixo. Já sinto saudade desses intensos 6 meses de enlevo e aprendizado.

E a minha pequenina dorme ao meu lado. Reparo nos brincos, no cabelo arrepiado, no nariz arrebitado, no biquinho que faz quando se move... e dá uma resmungada, solta uns grunhidos, levanta o nariz, estica o pescoço, da uma espiadinha com um dos olhos, bate os bracinhos, vira pro outro lado e continua a dormir...

E foram os 6 meses mais felizes da minha vida. Mais intensos. Mais longos. E mais rápidos. Tanto mudou. Tanto continua igual.

E em uma semana tudo muda novamente. E o coração bate mais devagar na inútil esperança de atrasar os segundos que teimam em passar rapidamente...


5.14.2013

..Today..

Can't think of happier 3 months in my life.

Quem é Margot, pintora de Aquarelas?


Por Walter Tabacniks



As aquarelas de Margot,

um exercício de resiliência
Nascida em 1932 no bairro de Itaquera, filha de mãe luterana e pai católico (união sempre reprovada pela família paterna), aos cinco anos Margot teve que deixar o Brasil com seus pais e seu irmão de três anos, porque por recomendação médica, sua mãe com malária deveria habitar um lugar frio. Ignorando apelos de amigos e parentes, seu pai alemão decide levar toda a família à sua terra natal, Augsburgo, sul da Alemanha, em pleno inverno de 1937 e com a esposa grávida de Helga, que nasce logo após a chegada na Alemanha. Dois anos depois, Margot inicia sua vida escolar. Ao mesmo tempo começa a Segunda Guerra Mundial na Alemanha e – isto ela não sabe – seu futuro marido zarpou de Berlim há pouco com toda família, no último navio destino Brasil, evitando o envio a um campo de concentração.

Augsburgo não era alvo preferencial dos ataques das forças aliadas, situação que mudou drasticamente a partir de 1943. A cidade abrigava a indústria de aviões Messerschmitt. Assim, em fevereiro de 1944, a família de Margot sobrevive a uma semana de incêndios, resultado de um gigantesco bombardeio de quinze mil bombas lançadas por quase 2000 aviões americanos. Sem portas nem janelas e chamuscada pelo fogo, a casa de Margot foi uma das poucas que permaneceu de pé. Junto à multidão em fuga, a família recolhe roupas e bens essenciais.  Caminham entre brasas e escombros para o outro lado da cidade, onde o chefe do partido os aguardava. Seu pai era membro do Partido Nacional Socialista.

Os frequentes bombardeios pesam na decisão da família buscar refúgio em chácaras às margens da cidade, pertencentes a parentes. A mãe de Margot decide dividir a família: encaminha cada um dos filhos a diferentes lugares.  Graças ao bom desempenho escolar, Margot, já com onze anos, é convidada a ficar numa escola adaptada em um hotel nos Alpes. Por dois anos perde contato com a família. Apenas quando completa treze anos consegue uma licença especial por influência do partido, para visitar seus pais.

Regressa de trem, sozinha e sob intensos bombardeios. Ataques são constantes nestes últimos meses de guerra. Na estação de Augsburgo seu pai a espera. Outras pessoas não tiveram a mesma sorte. Naquele dia, Margot presencia a poucos metros da estação, uma mulher ser alvejada e cair morta sobre a neve. Retornam a casa de bicicleta, sob um frio de 20 graus abaixo de zero.

São dias caóticos, preenchidos por sirenes de ataque aéreo, amigos próximos sendo presos, outros mortos ou desaparecidos e o constante sair da cama quente para se esconder de pijama em abrigos gelados.  Certa vez uma bomba incendiária perfura a parede da casa, por sorte não explode. 6 meses mais tarde, Margot assiste ao nascimento do caçula logo ao final da guerra. E pela janela de seu quarto assiste à chegada dos americanos na cidade. É a alegria das crianças - pela distribuição de balas e chicletes e o temor das mulheres – contrastado aos frequentes fuzilamentos de nazistas nas ruas.

Nos próximos seis anos de reconstrução da Alemanha, Margot e sua irmã passam boa parte do dia escondidas no sótão, sem escada ou aquecimento, pois seu pai temia que americanos perversos as encontrassem em uma das frequentes revistas. Roupas costuradas pela mãe para os americanos pagam o documento de "desnazificação" do pai. Margot, da janela do sótão, assiste sua mãe desmaiar quando americanos destroem toda horta ao fundo da casa. Aos 18, jovem e questionadora, Margot convence a família a retornar ao Brasil.

Já em São Paulo opta por apagar o seu passado. Consegue trabalho de secretária em uma empresa de importação, onde conhece Gregor, recém contratado. Pouco depois, aos 19 anos, Margot já está casada e grávida. A polêmica desta união supera de longe a de seus pais: o casal muda-se para Pelotas, Rio Grande do Sul pois apenas a mãe de Margot e o pai de Gregor aceitam o casamento de uma filha de nazistas com um judeu. Para o restante da família o tempo fechou. A distância, cartas constantes e o nascimento dos filhos dissipam 4 anos de desavenças entre as famílias e no final de 1958, Margot e Gregor e seus dois filhos retornam a São Paulo. Todos convivem pacificamente. Serão dez anos como dona de casa quando decide voltar a trabalhar de secretária e iniciar aulas de pintura em cerâmica com uma professora chinesa.

Quarenta anos depois dessa primeira experiência artística, viúva e aposentada, retoma o prazer pela arte. Começa a frequentar o curso da UNAT – Universidade Aberta da Terceira Idade do Instituto Mackenzie de São Paulo, onde tem aulas de aquarela. Técnica preferida de Margot, expressa de forma sutil e suave a delicadeza feminina, totalmente paradoxal à sua história de vida.

Conheça alguns dos trabalhos de Margot clicando aqui.

Viste a exposição das Aquarelas de Margot no PLATIBANDA - Rua Mourato Coelho 1365, Vila Madalena.Abre diariamente a partir das 18h - sábados e domingo a partir das 12h. Fecha à 1h da manhã.A exposição vai até dia 21 de maio.

5.05.2013

Conhecimentos da Maternidade

Coisas que aprendi (descobri) com a maternidade:

- dormir sentada com um bebê no colo (sem deixar o bebê cair)
- preparar refeições em 6 minutos e comer em 5, usando apenas 1 mão (agora entendo o porquê do "desejo de grávida")
- bebês só mamam a cada 3 horas e tiram sonecas de 2 no livro do Lamare
- eles podem chorar ao ouvir alguém tossir (ou se uma mulher gritar Ireeeeeeene bem alto no meio da rua)
- mas adoram dormir ao som do secador de cabelo, chuveiro, aspirador de pó...
- não dá para aprender músicas novas de violão nas horas vagas
- nem de teclado
- almoço com amigos na casa de um amigo é bem mais divertido e gostoso que em um restaurante
- bebês não bocejam ao ver alguém bocejando
- tudo pode acontecer
- seria muito prático comer ao mesmo tempo em que faço xixi/cocô (mas por questões de higiene não adotei esta prática)
- bebês não acordam tarde nos fins de semana e feriados
- subir/descer escada com o bebê no colo é ótimo para fazê-los pegar no sono (porém, péssimo para os joelhos)
- amamentar dá um caloooooor!
- bebês regurgitam várias vezes e nem se incomodam (na roupa deles, na dos outros)
- apesar de pequenos, sujam uma quantidade enorme de roupa
- existem choros inexplicáveis (o tal "purple period" ou melancolia de bebê)
- como diz minha prima, tem cocô que vai até o pescoço!
- bebês soluçam bastante e não se estressam com isso, podem até pegar no sono soluçando
- também espirram várias vezes
- é preciso cortar as unhas das mãos a cada 3 dias e o jeito mais fácil é com o bebê dormindo (as do pé crescem beeeeeem mais devagar)
- existe caspa de bebê, conjuntivite de bebê, espinha de bebê, brotoeja de bebê...
- o leite materno tem diversas utilidades (inclusive limpar lente de olho)...
- 20 minutos fazendo shhhhhhhh e dando tapinha nas costas to bebê é pouco quando comparado a 3 horas tentando fazer o bebê dormir
- adoro receber visitas!
- nos primeiros meses, a maioria das mães leva o bebê para sua cama, dorme no quarto do bebê ou dorme com o bebê na sala
- dar banho geralmente é tarefa do maridon
- quem inventou a lei da obrigatoriedade do bebê conforto no carro não tem filho
- é mais cansativo que eu imaginava
- e muuuuuito mais gostoso também!

Recomendo!


3.18.2013

Tenho Câncer e Um Berço


Gabriella. 31 semanas (01/dez/2012).

Junto com uma pesada caixa de papelão chegou em casa um fino envelope.

Na caixa, o que será um berço. No envelope, um band-aid de silicone que cobre onde uma vez havia uma tireóide.

O berço é da bebê sapo que transformou um útero em castelo. A tireóide alojava um carcinoma papilífero grau VI. Diagnóstico. O procedimento: tireoidectomia total. A dúvida: quando? Assunto controverso entre a Academia, que dividiu em dois times os quatro cirurgiões e dois obstetras consultados. A decisão: 100% minha. Ah, tumorzinho, se fosses maior que teus irrisórios 0.9 x 0.8 x 0.6cm, tão mais fácil tornarias minha decisão. Cada médico levantava uma dúvida e expunha opiniões e fatos. Eu queria números, estatísticas, porcentagens. Em vão. Modelos de análises de risco esperavam em branco por dados inexistentes. A decisão seria meramente emocional. Intuitiva. Se o tumor aumentar, se virar metástase, se você não fizer depois que o bebê nascer, se a empresa cancelar o convênio, se a anestesia geral afetar o bebê, se a cirurgia tiver alguma complicação, se eu morrer, se o bebê não resistir. Deus, por que me deste um cobertor tão grande?

Conversa com sua filhinha, dizia minha mãe. Explica que você vai fazer uma cirurgia e vai dormir por algumas horas. Pede para ela ficar tranqüila. Fala para ela não se preocupar e dormir um pouquinho, que vai passar logo. Avisa que é para o bem de vocês duas. Alguém me ensina a fazer isso sem chorar?

O coração espremia meus sentimentos e enchia de lágrimas o lençol do hospital. Luz verde, salinha iluminada, serenidade, harmonia, luz verde, luz verde, luz verde...

Explico.

Nos fundos de uma casa comprida com um corredor estreito na Vila Mariana, tem uma salinha pequena onde transborda energia...... é o grupo Noel, Centro Espírita. Nas manhãs de sábado tenho sido carinhosamente recebida por um seleto grupo que irradia luz verde em minha tireóide. Ao me despedir após a última sessão, um lembrete “quando no hospital, pense em nós e na salinha dos fundos”.

Cada lâmpada no teto aumentava o medo sobre o incerto. O objetivo era avisar todas aquelas pessoinhas de toca na cabeça que havia um bebê na minha barriga e que se algo porventura não viesse a ocorrer como planejado, que a prioridade não fosse eu. Lutava contra o pré-anestésico para ter a certeza que o recado seria dado. Medo, ansiedade, insegurança... luz verde... Um médico animado se apresentou. Algumas pessoas da equipe fizeram perguntas.... mas meu mundo só se acalmou ao ver o cirurgião com seu sorriso acolhedor dizer que se atrasou pois estava operando uma criança. Completou dizendo que iria cuidar muito bem das outras duas que o estavam esperando. Busquei refúgio na salinha iluminada enquanto me entregava às drogas que já não me deixavam retirar as mãos do ventre...

...

E o bebê? Fazia força, mas a voz não saía... e o bebê? Ouvia baixinho e torcia para que me ouvissem também. Está bem, disse um. Nos vemos em alguns meses no parto, despediu-se outra. Alívio. Alegria. Gratidão. Um mundo de emoções misturava-se com o bipe das máquinas e equipamentos e o vai-e-vem de funcionários. Tira a sonda, esforçava-me novamente. Ainda não temos autorização. Tira a sonda. Doutor, a Erika está incomodada com a sonda, posso retirá-la?

Pelamordedeus, tinham me falado que a recuperação da anestesia geral seria difícil, mas caraca – dá para tirar essa p**ra desse fiozionho de dentro da minha uretra que eu não to agüentando!?!!!! E pensar que colocaram uma sonda de urina no meu avô, enquanto consciente. Afe Maria, deve ter doído demais. Alguém arranca esse negócio se não eu mesma vou tirar?? Tem alguém aí??

Obrigada Doutor, vou retirá-la.

---

Obrigada Doutor. De coração.

3.11.2013

14 de fevereiro de 2013 - Boa Hora


Boa hora. Talvez a expressão mais honesta e pura que exista. Com certeza, minha favorita nos últimos meses. Ao ouvi-la, um sorriso involuntário iluminava meu rosto e o pensamento transcendia espaço e tempo por alguns segundos. Que Deus lhe dê uma boa hora. Existe desejo mais puro?

A minha hora, a nossa hora foi abençoada – e todos os segundos foram perfeitamente compondo a hora mais feliz da minha vida. Foi assim:

“Caraca, só aquela vaca da Gisele Bündchen que não sente dor, pelamordedeus”- foi o primeiro pensamento que invadiu minha mente ao ser despertada por uma contração às 6h20 da manhã de uma já ensolarada quinta-feira.

“Ah não, já preciso fazer xixi de novo – não agüento mais ir ao banheiro no meio da noite”, foi o segundo.

Desta vez, porém, senti o liquido saindo antes mesmo de eu me levantar... e corri para a privada. “Será?” – era tudo o que eu pensava enquanto ouvia o barulhinho de água. Levantei e olhei para dentro do trono: e agora? Será que isso é xixi? Ou estourou a bolsa? Sem ter certeza absoluta, resolvi voltar para a cama e dormir um pouco mais... dei 3 passos e senti mais liquido saindo de dentro de mim – corri para a privada! É a bolsa! Uhuuuuuuuuuuuuuuuuu! Vou finalmente sentir uma contração de verdade! Uma mescla de sentimentos tomou conta do meu coração – felicidade, surpresa, alívio, e agora? Reparei que conforme eu me mexia, saía mais liquido e dei uma rebolada para fazer um teste... levantei e olhei de novo: lá estava ele, o primeiro sinal de que minha bebê estava pronta para iniciar seu ritual de passagem – um liquido amarelado, fosco, com pedacinhos branco – a bolsa tinha rompido! Não dei descarga e tirei uma foto, caso a médica quisesse ver. Queria ligar para minha irmã e para a Dra. Betina, mas resolvi esperar um pouco – afinal era muito cedo. Reparei que as contrações estava vindo com certa freqüência e comecei a anotar os minutos, 12-14 entre cada. Corri para ver meus livros de preparação para o parto – quando mesmo devo ir ao hospital?  

As 7h20 não me contive e avisei minha irmã, que recebeu a notícia com enorme felicidade e – se bem a conheço – um pouco de ansiedade. Disse que ia arrumar as coisas e estaria a caminho de São Paulo em breve. Esperei alguns minutos para não acordar a médica e por volta das 8h00 dei a notícia à Betina – que também respirou com alivio – a pequena chegaria por conta própria, na hora dela, sem acupuntura, sem descolamento de membrana, sem dores e inconvenientes adicionais. Petit Gabi, a caminho.

As horas tornaram-se minutos e nada fiz além de anotar as contrações a manhã inteira... está chegando a hora, logo mais minha pequena estará aqui, que felicidade... puts, como dói... Quando me dei conta, já era cerca de 13hs e minha irmã, meu cunhado e minha sobrinha Lis estavam chegando. Foi aí que me deu conta que ficaria com vergonha de ter meu cunhado na sala enquanto eu gemia de dor... Minha irmã durona, nem titubeou, ele vai ficar aí e pronto. Ok, ok, tudo bem... Durona, metódica e super organizada – chegou com dois cronômetros, aplicativo do iPad que mede as contrações, mochila do hospital com mais que o imaginável, de incenso a energético. Pelo telefone, a médica me acompanhava “bom, pelo visto ainda vai demorar, você está conseguindo conversar normalmente”.... Lógico, pensava eu, sou uma mulher forte, já tirei as amígdalas e a tireóide, aposto que o parto nem vai doer nada... ...doce ilusão.

Enquanto Lê e Lis brincavam no tapete da sala, eu e Naninha fomos dar uma volta pelo prédio e um pulinho na farmácia para acelerar as contrações... e confesso que esse negócio de andar no pré-parto realmente funciona... Por volta das 18hs, Betina chegou em casa, sorridente e tranqüila, como sempre. Calmamente me examinou e para tristeza de todos, preferiu não dizer quantos centímetros de dilatação eu tinha, mas deixou claro que ia demorar. O sol deu lugar a uma tempestade que trouxe as águas de março em fevereiro e inundou nossa querida cidade. Enquanto a família Le Lis Drica foi jantar e trazer algumas guloseimas do mercado para agüentarmos a madrugada adentro, eu me deitei no quarto e Betina deu uma cochilada no sofá. Assim que levantei, recebi uma massagem relaxadora no corpo inteiro e aprendi a respiração que deveria fazer durante as contrações. Aaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh, de dentro e de baixo para fora e para cima, com força. Aaaaaaaaaahhhhhhhhhh, treinava eu. Foi aí que a Betina revelou o segredo, estava com apenas 3cm de dilatação – ou seja, o negócio ia ser loooooooooooooooongo.

Assim que a family retornou do mercado e me serviu uma mini pizza, por volta das 21hs, a Betina saiu para jantar – quando voltasse iríamos para o hospital, a bebê deveria chegar na madrugada de sexta. Avisei minha mãe e meu pai e em menos de 15 minutos a mini pizza fazia seu trajeto ao contrário – vomitei (PS: o organismo é fantástico, vai limpando tudo - eu tinha feito cocô 3 vezes de manhã).

Aaaaaaaaaaahhhhhhh.... eu vestia uma saia e a parte de cima de um biquíni para facilitar a massagem nas costas e a bolsa de água quente que meu cunhado e minha irmã colocavam na minha lombar durante as queridas contrações... O perfume do incenso se misturava ao cheiro do estoque de fraldas que decorava a sala e o choro da pequena Lis se mesclava às notas da música clássica que nos embalava. “caraaaaaaaaaaaaaalho, não vou agüentar, pelamordedeus, se tivesse no hospital já teria pedido uma anestesia.... não, já teria feito uma cesárea” pensava eu, mas tudo o que eu conseguia falar era aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhh...

Por volta das 22hs a posição mais confortável que eu encontrei foi sentada na privada, assim aproveitava e fazia xixi e podia me apoiar na parede da frente durante as contrações.... e a cada grito meu, minha sobrinha respondia ainda mais alto... e às 23hs o resto da mini pizza e o suco de uva voltaram à tona entre uma contração e outra – nem me levantei e vomitei no bidê ao lado. Meu cunhado ligou para a médica, disse que ia entrar no banho rapidinho e já estaria de volta. 

Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhh, eu não vou aguentaaaaaaaaaar. Buáaaaaaaaaaaaaaa respondia a Lis.
E imaginava o quarto delivery no hospital São Luiz, um lugar espaçoso e amplo, com iluminação especial, som ambiente, banheira de parto, um lugar onde os partos não doem.... meu paraíso... aaaaaaaahhhhhhhhhhhhhh.... buuuuaaaaaaaaaaaaaaaaa....

Para acalmar um pouco a Lis, Leandro a levou para dar uma volta no prédio e deixou minha irmã me doulando. Ela sugeriu que eu entrasse no chuveiro para tentar aliviar um pouco a dor – e confesso que não aliviou porra nenhuma, só aumentou minha vontade de fazer cocô... “é seu bebê que está chegando, Kika” foi a resposta. “Como assim? Não tá na hora!”. Você consegue colocar a mão lá? Vê se você sente alguma coisa? Nãaaaaaaaaaaaao, não consigo.... Vamos fazer um teste, senta na privada e na próxima contração ao invés de fazer o ahhhhhhh, faz a respiração para dentro, como se fosse fazer cocô mesmo. Tá, ok. Hmmmmmmmmmmmmmmmmmm – agora põe a mão lá e vê se você sente alguma coisa...  aaahhhhh, tem alguma coisa pressionando minha pele.... é a bebê! Mas não pode ser, dizia eu, ainda não esta aberto, não tem dilatação, não tem por onde sair... Ah, tem sim – pode escolher, você quer ir para a sala ou para o quarto??! Pensei no tapete branquinho da sala, vamos para o quarto! Fiquei de joelho na cama e gritava mais alto a cada contração...

Alô, Betina, o bebê da minha irmã tá chegando
-        Eu estou no subsolo, não consigo chamar o elevador
-        Ah, sobe um andar de escada, no subsolo ele fica bloqueado
-        Kika, faz força na contração....
-        Aaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
-        Betina, está saindo o mucus plug, eu não lembro o nome em português, mas está saindo... Kika, é o primeiro sinal que seu bebê vai nascer!
-        O elevador está desligado! E o outro tem alguém segurando! Fala pra sua irmã não fazer força...
-        Kika, na próxima contração, faz força
-        Aaaaaaaaaajjjjjjjjjjjjjjjjjjasdfasdfasdfasdfasdfasdfasdfasdfasf
-        Isso, saiu a cabecinha, na próxima faz de novo e vai sair o corpo, tipo assim pluft...
-        Espero que não me rasgue, foi a única coisa que pensei! E aaajjjjjjjjjjjjafffffffffffffffffff
-        Pronto! Nasceu!!!!!!!
-        Chora, chora, chora, chora....
-        Buuuaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa
Ufa.

e o tempo parou. Os minutos transformaram-se em horas e o mundo passava em câmera lenta dentro de um apto na Grande São Paulo.

Enquanto eu pulava o cordão umbilical para me sentar, a médica entrava no apartamento e minha irmã segurava a pequena... quer? Quer segurar?
-        Calma, calma, deixa eu me sentar...

E em poucos segundos Gabizinha estava nas minhas mãos, tentando sugar um peito que eu nem sabia direito como lhe oferecer....
“Deixa eu dar uma examinada para ver como está”
“Cortou? Rasgou?”
“Ah, tudo bem, só uma raspadinha na lateral, mas em 3 dias fica tudo ótimo”
Ufa.
“Que horas nasceu?” – perguntava meu cunhado ao entrar no quarto...
“Faz um pouco de força para sair a placenta”
“Deixa eu ver?”
E chorei ao ver o pedacinho vivo de mim que cuidou tão bem da minha petit e a manteve abrigada e alimentada por 41 semanas e 5 dias...

Você tem fio dental para amarrar o cordão?
“Segura aqui, sente o cordão pulsar˜
Não sentia nada, tremia, o mundo ainda caminhava devagar...
“Quer cortar?”
“Chama minha irmã”
“Nossa, que duro”

“Toma um banho devagar, mas não lava a cabeça”
“Você tem pano de chão? E outro lençol?”
“Tem um balde para eu lavar a bebê?”
“Ixe, esse absorvente pós parto é muito pequeno, vou pegar uma fraldinha dela para você”
“Você prefere que a gente fique aqui com você essa noite? Ou a médica?”

E quando eu saí do banho, a cama estava arrumada, os restos de mini pizza e suco de uva tinham sumido e Gabizinha dormia na minha cama, vestida com uma fraldinha, o cabelo cheio de pedacinhos de um sebo branco, o cheiro, ahhhh, o cheiro embriagava o ambiente.... cheiro de bebê tem cheiro de placenta, da minha placenta, do meu bebê.

E fiquei ali, a noite inteira, deitada ao lado da petit, observando cada pedacinho, cada detalhe... e ainda hoje quando olho para ela, sinto um aperto no peito e meus olhos se enchem de lágrimas.

23h48. Esta foi nossa abençoada hora.

3.05.2013

...nossa senha, para o resto da vida



De dentro de mim enrodilhado
Por meu olhar contemplas o universo

Vem minha criança, não tenhas medo
Sai dessa concha de sangue e carne
Onde te preparas para o mistério da vida
Estou a tua espera.
Vem, quero te falar das marés e da lua cheia
Quero te contar dos homens e de suas invenções.

Conheço cantigas de ninar com as quais te embalarei,
Para que teu sono seja tranqüilo
Sei histórias de fadas e heróis e vou narrá-las, uma por uma,
Para que seja alegre teu despertar e divertido seu dia.
Ouve: esse rumor surdo e contínuo que te faz companhia

Aí dentro nessa noite de tantas luas - é meu coração batendo.
Ele continuará pulsando por ti quando já tiveres saído e me
Olhares nos olhos.
Por esse som me reconhecerás, aqui fora,
Quando estiveres nos meus braços e eu te aconchegar no meu peito

Esta será nossa senha, para o resto da vida.
Toda vez que a tristeza escurecer o seu semblante
Sempre que a aflição fizer teu coração bater mais rápido,
Corre para mim e encosta a cabeça no meu regaço.
Aí ouvirás de novo esta mensagem
Estarei te esperando como hoje

                                                        Lídia Aratangy

à Gabriella, com todo meu amor

Desejo primeiro que você ame,
E que amando, também seja amado.
E que se não for, seja breve em esquecer.
E que esquecendo, não guarde mágoa.
Desejo, pois, que não seja assim,
Mas se for, saiba ser sem desesperar.

Desejo também que tenha amigos,
Que mesmo maus e inconseqüentes,
Sejam corajosos e fiéis,
E que pelo menos num deles
Você possa confiar sem duvidar.
E porque a vida é assim,
Desejo ainda que você tenha inimigos.
Nem muitos, nem poucos,
Mas na medida exata para que, algumas vezes,
Você se interpele a respeito
De suas próprias certezas.
E que entre eles, haja pelo menos um que seja justo,
Para que você não se sinta demasiado seguro.

Desejo depois que você seja útil,
Mas não insubstituível.
E que nos maus momentos,
Quando não restar mais nada,
Essa utilidade seja suficiente para manter você de pé.

Desejo ainda que você seja tolerante,
Não com os que erram pouco, porque isso é fácil,
Mas com os que erram muito e irremediavelmente,
E que fazendo bom uso dessa tolerância,
Você sirva de exemplo aos outros.

Desejo que você, sendo jovem,
Não amadureça depressa demais,
E que sendo maduro, não insista em rejuvenescer
E que sendo velho, não se dedique ao desespero.
Porque cada idade tem o seu prazer e a sua dor e
É preciso deixar que eles escorram por entre nós.

Desejo por sinal que você seja triste,
Não o ano todo, mas apenas um dia.
Mas que nesse dia descubra
Que o riso diário é bom,
O riso habitual é insosso e o riso constante é insano.

Desejo que você descubra ,
Com o máximo de urgência,
Acima e a respeito de tudo, que existem oprimidos,
Injustiçados e infelizes, e que estão à sua volta.

Desejo ainda que você afague um gato,
Alimente um cuco e ouça o joão-de-barro
Erguer triunfante o seu canto matinal
Porque, assim, você se sentirá bem por nada.

Desejo também que você plante uma semente,
Por mais minúscula que seja,
E acompanhe o seu crescimento,
Para que você saiba de quantas
Muitas vidas é feita uma árvore.

Desejo, outrossim, que você tenha dinheiro,
Porque é preciso ser prático.
E que pelo menos uma vez por ano
Coloque um pouco dele
Na sua frente e diga "Isso é meu",
Só para que fique bem claro quem é o dono de quem.

Desejo também que nenhum de seus afetos morra,
Por ele e por você,
Mas que se morrer, você possa chorar
Sem se lamentar e sofrer sem se culpar.

Desejo por fim que você sendo homem,
Tenha uma boa mulher,
E que sendo mulher,
Tenha um bom homem
E que se amem hoje, amanhã e nos dias seguintes,
E quando estiverem exaustos e sorridentes,
Ainda haja amor para recomeçar.
E se tudo isso acontecer,
Não tenho mais nada a te desejar ".