1.09.2013

Epi-No



Epi-no. Provável que uma recente mãe de parto normal e seu companheiro conheçam este aparelho. Demais mortais residentes no Brasil e na maioria dos países, ainda não. Explico. É um aparelho com uma bexiga de inflar e uma válvula de pressão usado para massagear e fortalecer o períneo com o objetivo de evitar a temida episiotonomia. Inventado pelos – até onde eu sabia, pouco criatvios - alemães, esta bombinha de inflar tem conquistado adeptos nas mais distantes localidades. Aqui no Brasil, ele pode ser comprado por cerca de R$ 600 em apenas um site tão pouco acesssado, que eu achei uma vez e estou procurando para divulgar o link. Contrária à recomendação de seu produtor, o costume em São Paulo tem sido alugar e realugar os epi-nos de quem os comprou. Recomenda-se o uso a partir da 34º semana de gestação e o objetivo é conseguir expelir a bexiga com um diamêtro de 30 cm. A recomendação é fazê-lo por cerca de 5 minutos todo dia. Bom exercício para desenvolvermos a paciência e a força de vontade, além de vencer barreiras como constrangimento e ensinar a medir progresso e atingir metas. Ótimo para o desenvolvimento profissional e pode ainda desenvolver o trabalho em grupo.

Para esta tarefa, algumas mulheres contam com a ajuda de seus maridos, namorados, que, imagino eu, devem superar uma boa dose de constrangimento e falta de interesse para calmamente enfiarem uma bexiga dentro de suas amadas, enchê-la de ar, segurar por alguns minutos e vê-las expelir o balão. Talvez até funcione como um brinquedinho sensual, mas tenho minhas dúvidas. Outras, como eu, aprendemos a manusear o aparelho sozinha. Para isto, podemos contar com o auxílio das terapeutas de Epi-No, profissão até então por mim considerada inexistente. Já passei por, poucos, momentos constrangedores – mas este, pelamordedeus, parecia que o ar estava pesado e as paredes do consultório se fechando a cada longo segundo que demorava minutos para passar. Terminada a consulta, respirei a brisa fresca que presenteava a cidade e liguei para minha irmã – que riu comigo do momento embaraçoso que terminara há pouco.

Conforme aprendi, perna em cima de almofada, deitada de lado, sentada na beira da cama, espelho, música, luz apagada, todo recurso é válido para a futura mamãe relaxar e enfiar a bexiga lá dentro. Eu costumava fazer o exercício, digamos assim, deitada no sofá, com um pé em cima das almofadas, assistindo novela – horário em que raramente o telefone toca – e fechava as cortinas para evitar que o novo casal do prédio ao lado  acompanhasse todos os minutos de meu dia-a-dia.  E foi assim, enquanto Morena encontrava sua mãe e Júnior no Aeroporto, que ouvi um fiuuuuuuuuuzzzz e a bexiga saiu voando como acontece em desenho animado. Era uma vez um epi-no. Alugado. Enquanto Dona Lucimar chorava de emoção eu imaginava os Reais saindo de minha conta bancária e pensava nos emails que ia enviar para as donas de Epi-No ver se encontrava algum disponível para alugar a partir do dia seguinte. Aquele rasguinho de 0,5 cm na base do aparelho me deixou triste. Será que consigo remendar o furo? Band-aid, fita crepe, super bonder, esparadrapo – eram todos os artifícios colantes que eu tinha ao meu alcance. E eis que lembrei de algo que podia salvar meu Epi-no de aluguel.

Em julho de 1994 minha família mudou-se para a Califórnia, onde morei por dois anos. Foi lá que compramos um bote de borracha, acompanhado de coletes salva-vidas laranja fosforecente. Eventualmente, depois de anos sem uso após nosso retorno ao Brasil – com a permissão de meus pais - dei o bote para uma amiga levar para sua casa de campo, na frente de uma lagoa. Aliás, imagino que ele nuna tenha sido usado. Enfim... Enquanto na terra do Tio Sam, este bote, às vezes, furava. E era com um remendo verde que meu pai calmamente o consertava. Será que ele ainda tem este material fascinante? Lembro com carinho da tarefa de procurar as bolhinhas de ar que saíam do material de borracha submerso em água... semelhante à busca feita pelos borracheiros quando levávamos os pneus furados para serem remendados. Aliás, frustrante foi minha recente descoberta que pneus não usam mais câmaras de ar – o que reduziu em larga porcentagem a quantidade de pneus furados. Porém, ainda furam. Será que ainda existem borracharias?

Sim, sim, existem - e tem duas há alguns quarteirões de casa.

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No dia seguinte, entreguei o Epi-no a um senhor que desviava os olhos de suas cartas e me observava desconfiado. Prometeu ver o que consegueria fazer enquanto examinava o instrumento. Sem perguntas, rapidamente me despedi, pois notei que seus amigos de carteado esperavam minha saída com impaciência, e combinei que voltaria no próximo dia.

1 comment:

  1. aiai Kika! não sabia dessa.... que loucura! ainda bem que o borracheiro consertou! hehehe
    Bjos, Naninha.

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